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Aqui esta no que veio a dar aquelle bello espirito do maior improvisador e do maior bohemio da Coimbra de ha vinte annos! Ó salgueiraes do Mondego, lamentai-o! Ó musa alegre da tasca das Camêllas, cobre de luto a tua face mésta! Ó fina flôr dos rapazes d'esse tempo, chorai por elle e.... por vós! Colhi em Braga informações sobre o viver de João Penha transformado.

Ao vento os cabellos! por montes e valles Corramos no passo das gregas choréas! Bachantes das praças, vibrae os cymbales! Abri-nos as portas, gentis Galathéas! A lenda das noites das Camêllas, personificada em João Penha, subsistiu como uma das seducções tradicionaes da vida academica.

Antonio Nobre, que eu julgo ser, de todos os poetas novissimos, o que tem mais poderosas faculdades para traduzir as impressões da alma moderna, torturada pela nevrose, confessa a suggestão d'essa lenda bohemia, que reproduz a Poesia ardendo como uma pyra sobre o tampo dos toneis impantes: ......... A Tasca das Camêllas Para mim, era um sonho, o ceu cheio de estrellas.

Elle tinha de certo ouvido contar que João Penha, entrando na Tasca sem perder a donairosa compostura de um gentleman, que jamais esquecia as luvas e o charuto, se limitava a esvasiar uma «taça», nome aristocratico com que nas Camêllas a bohemia nobilitava o copo.

Mas quando Antonio Nobre chegou a Coimbra, uma barreira de vinte annos, espessos como vinte seculos, separava da tasca das Camêllas a pessoa do doutor João Penha, advogado nos auditorios de Braga. A alma espumante e radiosa das noites da bohemia partira-se como a tapa das ultimas libações; partira-se, e partira.

Ainda rescaldam nos «cavacos» da academia as anecdotas, os episodios das noites das Camêllas no tempo de João Penha.

Filado pelo cliente, João Penha era, n'aquella hora, sob o céu azul, radioso de sol, uma victima do Direito, que legisla sobre regos e outras coisas mais; do Direito que elle podera amenisar em Coimbra com as satyras escriptas na aula, com os sonetos publicados na Folha, com a bohemia alegre das Camêllas e do Homem do gaz. Agora, em Braga, o Direito esmagava-o como a clava de Hercules.

Dir-se-ia que tinham desapparecido com João Penha e com o seu tempo essas télas vivas de Van Laar, que revestiram as paredes das Camêllas; paineis pagãos, dignos de Ticiano e de Poussin, onde a Fabula parecia sorrir ainda, coroada de pampanos, no verso bachico do auctor do Vinho e fel: Dá-me esse onagro de vigor silvestre, E os ôdres fundos, oh Sileno antigo: Ensina-me na dor: tu és mestre.

No templo reinava o luto silencioso das lendas de antigos castellos abandonados por principes cujo destino é ainda um mysterio. E Antonio Nobre, relanceando os olhos tristes pela solidão tenebrosa, teve esta explosão de desespero truculento: Tia Camêllas... ficou a camellice.

Antonio Nobre conhecia a tradição, a anecdota, o pittoresco da lenda, mas, quando chegou a Coimbra, apenas restava da bohemia de João Penha, na Tasca das Camêllas e na Via Latina, a lembrança de que passára outr'ora por ali uma onda de mocidade alegre, que o tempo seccou. Tia Camêllas... ficou a camellice. A tradição em Coimbra, um advogado em Braga, eis o que resta de João Penha bohemio.

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