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Rosnei um «desculpe, minha santinha.» E tombando emfim no catre, deixei escapar o pranto á larga, por cima do embrulho de papel pardo: elle era tudo que me restava d'essa paixão de incomparavel esplendor, passada na terra do Egypto. Dois dias e duas noites o Caimão arquejou e rolou nos vagalhões do mar de Tyro.

Era a vaga enjoadora... Corri á borda; sujei immundamente o azul do mar de Tyro; depois rolei para o beliche e ergui do travesseiro a face mortal quando senti as correntes do Caimão mergulharem nas calmas aguas onde outr'ora, fugindo d'Accio, cahiram á pressa as ancoras douradas das galeras de Cleopatra!

Sim, chegára de Smyrna um paquete que levantava n'essa tarde ferro para o Egypto, e que era o nosso dilecto Caimão! Ainda bem! gritei, atirando patadas ao ladrilho. Ainda bem, que estava farto do Oriente!... Irra! que não apanhei aqui senão soalheiras, traições, sonhos medonhos e botas pelos quadris! Estava farto! Assim eu bramava, sanhudo.

Tire o barrete, saúde essa anciã dos tempos, cheia de lenda e d'historia... Foi aqui que o borrachissimo Noé construiu a sua Arca! Cortejei, assombrado. Caramba! Ainda agora a gente chega, lhe começam a apparecer coisas de religião! E conservei-me descoberto porque o Caimão, ao ancorar diante da Terra Santa, tomára o recolhimento d'uma capella, cheia de piedosas occupações e d'unção.

Apenas embarcado no Caimão, corri a esconder no beliche a minha dôr. Topsius ainda me agarrou pela manga para me mostrar sitios das grandezas dos Ptolomeus, o porto do Eunotos, a enseada de marmore onde ancoravam as galeras de Cleopatra. Fugi; na escada esbarrei, quasi rolei sobre uma Irmã da Caridade, que subia timidamente com as suas contas na mão.

Fôra por tristeza que deixára a «Alexandriasinha». O Hotel das Pyramides, as maletas carregadas, tinham saturado a sua alma d'um tedio insondavel: e o nosso embarque no Caimão para Jerusalem dera-lhe a saudade dos mares, das cidades cheias d'historia, das multidões desconhecidas... Um judeu de Keshan, que ia fundar uma estalagem em Bagdad com bilhar, alliciára-o para «marcador». E elle, mettendo n'um sacco as piastras juntas nas amarguras do Egypto, ia tentar essa aventura do Progresso junto ás aguas lentas do Euphrates, na terra de Babylonia.

E a pallida Religiosa deixára o Caimão, pomba do êrmo escapada ao milhafre porque o milhafre no seu vôo fechára a aza, sordidamente enjoado! N'essa mesma tarde, no Hotel das Pyramides, soube com jubilo que um vapor de gado, El Cid Campeador, partia de madrugada para as terras bemditas de Portugal!

não tens Deus por quem se combata, Alpedrinha! nem rei por quem se navegue, Alpedrinha!... Por isso, entre os povos do Oriente, te gastas nas occupações unicas que comportam a , o ideal, o valor dos modernos Lusiadas descansar encostado ás esquinas, ou tristemente carregar fardos alheios... As rodas do Caimão bateram a agua.

Da barcaça, acocorado sobre os caixões das Reliquias, ainda o vi na praia, sacudindo para mim um lenço triste de quadrados ao lado de Potte que nos atirava beijos, com as grossas botas mettidas n'agua. E no Caimão, debruçado na amurada, ainda o avistei immovel sobre as pedras do molhe, segurando com as mãos, contra a brisa salgada, o seu vasto turbante branco. Desventuroso Alpedrinha!

E a sineta á pôpa tilintava, na brisa salgada, com uma doçura devota de toque de missa... Mas, vendo uma barcaça escura remar para o Caimão, baixei depressa ao beliche a pôr o meu capacete de cortiça, calçar luvas pretas, para pisar decorosamente a terra do meu Salvador. Ao voltar, bem escovado, bem perfumado, achei a lancha atulhada.

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