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Era pois La goutte uma personagem lendaria no exercito francez, e passava em proverbio dizer-se, quando se era mal servido: Eu sou conhecido do Bénard. Rosina Regnau, ao vel-o ferido, sentiu-se propellida a dolorosa piedade. Estava alli La goutte, que ella tantas vezes vira desde a sua infancia, e de quem tantas vezes se rira na edade em que toda a excentricidade nos parece ridicula.

Esta phrase motivou aquelle cognomento, que valia tanto como dizer em portuguez: O pinga. Bénard era um excentrico, que tinha intermittencias soturnas e luminosas. Umas vezes lhe dava a embriaguez para se deixar cair n'uma tristeza insociavel, outras era causa d'uma garrulice chistosa e alegre. Mal que se levantava, enchia a sua garrafinha de aguardente.

José Maria da Graça Strech escolheu o regimento d'infantaria 18, que, com o 6 e 9 da mesma arma, foi mandado para Coimbra. Então se levantava detraz do tumulo da irmã querida, para o desgraçado moço, a aurora do amor, que desabrochára no primeiro beijo, e que o ciume aclarára definitivamente á beira do catre do moribundo Bénard. Havia-se batido como leão, açulado pelo cheiro do sangue.

E, como a cabeça do francez parecesse desequilibrar-se, Rosina Regnau procurou encostal-a ao peito carinhosamente. Não! apostrophou com extrema difficuldade Bénard não! Um francez... morre... encostado... a outro... francez... Eh! eh! rouquejou. E, procurando aprumar-se, disse com esforço grande de mais para o lance do passamento: Vive.. ... Fran... Não pôde concluir.

Juro-te, pela memoria de minha irmã te juro, que isto o senti eu ao do pobre Bénard, quando te vi soccorrel-o. N'esse momento forjou o ciume as cadeias que nos teem agora aqui presos. Comecei por aborrecer-te, é certo.

Bénard trazia pendurada do pescoço a sua garrafinha. N'esse dia, como a refrega lhe não désse tempo para offerecer a gotta, bebera-a elle toda, por excepção. O resultado foi expôr-se á morte com um denodo que, sommado, daria a embriaguez de quatro amigos. Avançou imprudentemente e ficou prisioneiro com uma bala no peito.

Quando a carroça rodou lugubremente, caminho da valla commum, onde portuguezes e francezes iam dormir sem odios nem malquerenças o somno eterno, Graça Strech acercou-se de Rosina, que parecia duvidar ainda do que tinha ouvido, e segredou: Devo á memoria de Bénard uma felicidade que não merecia a Deus. De hoje em deante não haverá entre nós barreira que possa separar-nos.

Fugiste, Rosina... Pobre rapariga!.. Como todos te querem mal!... Se te vissem... matavam-te... Sim, eu sou Bénard... Tinha hoje a minha garrafinha cheia... Bebi-a toda... Tomei calor... Boa gotta!... Aguardente de Hespanha! Vão estes perros, que não teem um palmo de terra, e mettem-me uma bala no costellame... Irra! Boa aguardente... E tu aqui!

Ella dir-lhe-ia com a affouteza que a innocencia : Eu bem sei que fiz mal. Mas aquelle era o Bénard, La goutte, que eu conhecia, desde pequena, de o ouvir discorrer sobre o egoismo dos homens e de o ver puxar pela sua garrafinha d'aguardente. O pae Regnau, apesar do vicio, estimava-o muito, e até lhe chamava... philosopho.

Bebia até ao meio, erguendo o frasco para venficar á luz se a medida era exacta, e, certificado, acabava d'enchel-o com agua fria. Convém, porém, saber que Bénard classificava os seus companheiros d'armas do seguinte modo: 1.º Amigos capazes de emprestar. 2.º Amigos capazes de não pedir. 3.º Amigos capazes de não emprestar. 4.º Amigos capazes de pedir. 5.° Conhecidos.