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Luiz da Cunha não desmerecêra nada nas esperanças de Marianna, e vivia á mercê da vontade d'ella, que era a primeira a lembrar-lhe os bailes, o theatro, e os passeios, que o bom marido frequentava com ar de aborrecido. Os que tinham como certos os escandalos de Luiz em Portugal, estavam com elle em suspeitosa guarda, não querendo acceitar como possivel a sua emenda.

Dirigindo-se a todos os grupos, simultaneamente, e procurando dar á voz esse tom desconhecido que, nos bailes d'esta ordem, faz parecer igual o metal de todas as vozes, conseguiu, em pouco tempo, chamar sobre si todas as attenções.

Na carencia de divertimentos, festas e prazeres bateu-vos á porta a festa do glorioso prelado de Sebaste, S. Braz, o milagroso advogado das molestias da garganta. «Bailes não houve... Alto , musa: olha que me fizeste pregar uma mentira ás benignas leitoras!

«Corinna está-me sempre repetindo a historia dos nossos amores, que eu acho sempre nova. Os dois bailes do Porto em que a vi; as primeiras palavras que eu lhe disse, com destemperada lamuria; os seus pensamentos no Lima, dia por dia, e hora por hora. Sinto-me duplicadamente viver na sua vida passada; parece-me que estou tomando posse d'uma existencia que devia ser minha desde então.

E demais, elle não deixará de fazer a sua visita á capital, de levar a Zina aos bailes, e receio muito, muito, acredite, que isso concorra a dar cabo d'elle! Orêmos, porém, meu caro Pavel, e quanto ao mais, entreguêmo-nos nas mãos de Deus! Espére, arme-se de paciencia, seja viril, e viril, acima de tudo!

¿O sujeito de óculos de oiro, dentro do copé?... Não conheço, meu amigo. Talvez um parente rico, dêsses que aparecem nos enterros, com o parentesco correctamente coberto de fumo, quando o defunto não importuna, nem compromete. O homem obeso de carão amarelo, dentro da vitória, é o Alves Capão, que tem um jornal onde desgraçadamente a Filosofia não abunda, e que se chama a Piada. ¿Que relações o prendiam ao Matias?... Não sei. Talvez se embebedassem nas mesmas tascas; talvez o José Matias últimamente colaborasse na Piada; talvez debaixo daquela gordura e daquela literatura, ambas tam sórdidas, se abrigue uma alma compassiva. Agora é a nossa tipóia... ¿Quer que desça a vidraça? Um cigarro?... Eu trago fósforos. Pois êste José Matias foi um homem desconsolador para quem, como eu, na vida ama a evolução lógica e pretende que a espiga nasça coerentemente do grão. Em Coímbra sempre o consideramos como uma alma escandalosamente banal. Para êste juizo concorria talvez a sua horrenda correcção. Nunca um rasgão brilhante na batina! nunca uma poeira estouvada nos sapatos! nunca um pêlo rebelde do cabelo ou do bigode fugindo daquele rígido alinho que nos desolava! Alêm disso, na nossa ardente geração, êle foi o único intelectual que não rugiu com as misérias da Polónia; que leu sem palidez ou pranto as Contemplações; que permaneceu insensível ante a ferida de Garibaldi! E todavia, nesse José Matias, nenhuma secura ou dureza ou egoismo ou desafabilidade! Pelo contrário! Um suave camarada, sempre cordial, e mansamente risonho. Toda a sua inabalável quietação parecia provir duma imensa superficialidade sentimental. E, nesse tempo, não foi sem razão e propriedade que nós alcunhamos aquele môço tam macio, tam louro e tam ligeiro, de Matias-Coração-de-Esquilo. Quando se formou, como lhe morrera o pai, depois a mãe, delicada e linda senhora de quem herdara cincoenta contos, partiu para Lisboa, alegrar a solidão dum tio que o adorava, o general Visconde de Garmilde. O meu amigo sem dúvida se lembra dessa perfeita estampa de general clássico, sempre de bigodes terríficamente encerados, as calças côr de flor de alecrim desesperadamente esticadas pelas presilhas sôbre as botas coruscantes, e o chicote debaixo do braço com a ponta a tremer, ávida de vergastar o Mundo! Guerreiro grotesco e deliciosamente bom... O Garmilde morava então em Arroios, numa casa antiga de azulejos, com um jardim, onde êle cultivava apaixonadamente canteiros soberbos de dálias. Êsse jardim subia muito suavemente até ao muro coberto de hera que o separava de outro jardim, o largo e belo jardim de rosas do Conselheiro Matos Miranda, cuja casa, com um arejado terraço entre dois torreõsinhos amarelos, se erguia no cimo do outeiro e se chamava a casa da «Parreira». O meu amigo conhece (pelo menos de tradição, como se conhece Helena de Troia ou Inês de Castro) a formosa Elisa Miranda, a Elisa da Parreira... Foi a sublime beleza romântica de Lisboa, nos fins da Regeneração. Mas realmente Lisboa apenas a entrevia pelos vidros da sua grande caleche, ou nalguma noite de iluminação do Passeio Público entre a poeira e a turba, ou nos dois bailes da Assembleia do Carmo de que o Matos Miranda era um director venerado. Por gôsto borralheiro de provinciana, ou por pertencer

Mas póde-se isso comparar á delicia de ir tagarelar para o club, ter todas as noites trez ou quatro bailes, fazer phrases sobre a questão do Oriente, e ceiar com Miss Fanny, n'um quente boudoir de veludo, emquanto fóra a plebe patinha na lama de Londres?! Não, não se póde comparar. E por isso veio o momento psychologico, como diz esse illustre homem de prosa, o snr.

Batei n'esta sáphara, entendedores do coração humano, esmerilhadores do intimo dos predestinados e minothauros e Sganarellos ao alcance da sciencia humana. Cançar-vos-heis sem achar a razão da cousa. O axioma foi proferido ha quatro annos, e tem tres edições com esta: Ha maridos que não desconfiam das mulheres; mas não vão aos bailes, para que os outros não desconfiem.

A minha robustez devo-a eu a descender de uma vigorosa raça de mulheres, que os nobres cuidados da sua casa e da sua familia tiveram sempre ao abrigo das sentimentalidades enervantes e das publicidades burlescas: poucas vezes empallideceram nos bailes e não tiveram nunca de que corar aos folhetins dos periodicos.

Não sei se todos aquelles que passam os largos serões do inverno, não nos theatros, nem nos banquetes profusos, nem nos bailes esplendidos, mas em aposento de poucas varas em quadro, rodeiados de alguns livros e a sós com o seu pensar silencioso; não sei, digo, se a todos esses acontece o mesmo que a mim, quando o som do chuveiro subito, o silvo do vento, e o bramido do mar, quebrando ao longe nos rochedos da marinha, lhes vem toldar a serenidade do tão suave calar nocturno e as imagens que transitam lentas no kaleidoscopo da imaginação.

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