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Entretanto, o allucinado empregava todos os processos conhecidos para satisfazer a ancia pertinaz. Fez grandes offertas de dinheiro, repellidas sempre. Cortejou a bailarina, valendo-se umas vezes da brandura hypocrita, outras da violencia natural. Nem de uma, nem da outra maneira. Ao lado da franceza estava um amante, francez tambem, caprichoso, ciumento, e espadachim.

As promessas redobraram, e a bailarina cahiu do pedestal do capricho, onde quizera ter-se como em pedestal de virtude. Cedeu, e com tanto escandalo que na noite de proximo theatro, em pleno espectaculo, Luiz da Cunha recebeu do rival uma bofetada na face, á qual respondeu com chicotadas, que lhe deram a primazia na lucta.

Do mesmo modo, quem se senta á mesa de trabalho para traçar um esboço dos acontecimentos, para consignar as impressões do espectaculo d'hontem em quanto se faz horas para o baile d'hoje, e se pensa no passeio d'ámanhã, quem não quer historiar os factos mas unicamente estenographal-os, deixa fluctuar a penna na corrente do folhetim, dando um sorriso á bailarina nova, atirando um punhado de flôres ás alegrias do povo, orvalhando de lagrimas a saudade d'um athleta que cahiu, e sahe depois, de casaca e luva côr de perola, quando chega a carruagem, sem pensar siquer em que, procedendo d'outro modo, poderia ir ao capitolio mais depressa do que á sala esplendida e perfumada que o espera.

Tratou-se um duello, que Luiz da Cunha disse não aceitava, porque era filho de um dos mais nobres fidalgos de Portugal, e não media o seu florete com um troca-tintas da França. O francez, dias depois, abandonava o Rio para evitar um assedio de traiçoeiros punhaes, comprados por Luiz da Cunha. A bailarina estava sob o exclusivo dominio do novo amante. O seu fausto centuplicou em grandeza.

Barão de Murtede tinha-se installado mais a franceza, n'uma frisa de bocca, mesmo em face da esposa e das filhas, que estavam ouvindo contar ao Alfredinho torto, o Alfredinho dos cotillons, uma scena de sopapo nos corredores de S. Carlos, por causa de não sei que bailarina americana.

Luiz da Cunha evitava assim que sua mulher visse a bailarina, e explicasse a viagem á Europa, e a sahida precipitada de Paris. Carlota aceitou: rompeu as escripturas; e o amante pagou a condemnação. Marianna não podia comprehender as sahidas frequentes de Luiz, deixando-a n'uma hospedaria! Não se queixava para não ser, talvez, injusta com as abstracções de seu marido.

A primeira ideia foi seguir quanto antes sua mulher. Consultou Carlota, e a carinhosa respondeu ternamente que o não acompanhava, porque não tornava ao Brazil. Ainda assim, renunciando generosamente o amante á esposa, a bailarina aconselhava-o que a seguisse, embora ella ficasse devorada de saudades.

Sinistra farça divina, Mais sonoro que o tambor De bohemia bailarina! Adeus, adeus, ó outomno! Vão-se as folhas amarellas!... Sinto-me cair de somno, Olhando para as estrellas! Sigam todos os meus rastros!... Andei errado o caminho! E sinto-me ebrio dos astros Como um bebado de vinho! Adeus, adeus rola amada! Não chores a minha viagem... Vou hospedar-me no Nada, Como na boa estalagem!

Proseguiu nas suas viagens com Carlota. Saboreou o ouro e a liberdade, não azedada pelas lagrimas importunas de sua mulher. Gastou francamente como se uma nova remessa devesse chegar do Brazil, antes de escoar a ultima libra dos dez contos. Fez, durante quatro mezes, pontuaes pagamentos á bailarina, de cinco mil francos cada mez.