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Porque chora a bella Auzenda? O que lhe diz o coração?

O sol se escondeu de traz do ultimo outeiro; desmaiaram os derradeiros clarões no topo da cruz de pedra; levantou-se por fim a lua sobre as campinas, e nenhum cavalleiro, ou sombra d'elle, se avista em larga distancia ao redor. No castello era vespera de noivado. Auzenda, a bella Auzenda, ia casar-se com Moço Ansures.

No hombro tinha reclinado outra vez o lindo corpo de Auzenda sem sentidos. As faces desbotadas da donzella tocavam o rosto queimado do velho; as tranças de ouro misturavam-se com as madeixas brancas; os olhos languidos, em que expirava a doce luz da vida, cerravam-se mortaes. Castigai-me, Senhor! bradava o conde, chorando como creança.

Escudeiros! Fazei honra! exclamava cortejando os recem-chegados com a bocca cheia de riso. Falta, porem, um homem na festa e com elle tudo falta. A ultima hora do dia, segundo sua promessa, deveria tel-o trazido aos pés de Auzenda, e com a noute cerrada não chegava!... Do lado das montanhas não havia rebate de mouros. As almenáras apagadas não davam signal de inimigos.

Ao cabo de sessenta annos de pelejas o fronteiro sepultou comsigo a orgulhosa raça de riba d'Ave, e do seu castello ficaram de aquella torre negra, que alem vemos, e a hermida aonde jazem os ossos de Pedro Ansures. E D. Moço? perguntou Martim Paes. E Auzenda? acudiu D. Nuno.

Eram as nupcias dos mortos, o noivado de Auzenda e de Ansures? Era ainda a sombra de Inigo Lopes perseguindo na donzella o sangue inimigo e a vingança contra o conde Ordonho? Altos mysterios de Deus. Quem ousaria prescutar os segredos da sua justiça, e os prodigios da sua clemencia infinita?! Ai, Virgem Santissima! Não ganha a gente para sustos!

As aguas, rebentando ali á sombra de antigos choupos, ferviam de encontro ás fragas, e despenhadas espumaram batendo em cachões no leito da ribeira, que em baixo bramia arremessada por entre a bronca penedia. Aonde está D. Ordonho? Junto de Auzenda desmaiada! Com ella nos braços por entre as chammas, que lhe crestavam o rosto, não correu, voou baixando de andar em andar, até ao terreiro.

Por isso deixára Auzenda junto da cruz de pedra ao romper da aurora. Por isso as horas passavam e a saudade impaciente da noiva as contava tão vagarosas! Deus seja comnosco Na sala de armas do castello soam mil vozes de jubilo. Que luz faisca das malhas pulidas e que reflexos, que cegam, saltam dos dourados capellos!

Apenas Inigo expirou, desfez-se o encantamento. D. Moço buscou Auzenda. Encontrou-a, mas sem vida! Levaram-a os monges á capella, puzeram-lhe na cabeça uma corôa de cecens, e a terra comeu de quinze annos a formosura mais invejada das Hespanhas. D. Moço, desde esse dia, não viveu. A saudade matou-lhe a alegria, a esperança, e a juventude. Nunca mais vestiu armas. O que iria pedir ás batalhas?

Os escanções enchem as taças e fazem-as circular em roda. Saudes, acclamações, e vozes crusam-se, trocam-se e voam em confusão jovial de um a outro extremo da casa. D. Ordonho parece remoçado. Á sua direita senta-se Auzenda. Da esquerda um escanho vazio aguarda D. Moço Ansures. Defronte, em outro escanho, tambem vazio, estaria o pae do noivo, se podesse deixar a sepultura. Cobre-o um veu de luto.

Palavra Do Dia

stuart

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