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Sabia com que intima alegria estremecera no dia da inauguração da capella. Dois dias antes, ao cantar, ante um auditorio ainda assim restricto, a Ave Maria de Gounod, experimentára maior satisfação. Os bravos e palmas que então ouvira, tinham a como que transportado aos bellos tempos em que ella arrebatava uma platéa inteira.

Mudára tudo em mim completamente: Resfriára-se o fogo dos desejos, E o sentimento despontava n'alma! Vaporosa, ideal, dentro de pouco A meus olhos surgíra uma figura Cuja forma gentil me arrebatava! No purissimo azul dos olhos castos, Tremiam, scintillando, algumas lagrimas; O sorriso, gelado á flor dos labios, Como gela o sorriso da virtude Quando pára assustada ante o peccado.

Isabel Gamarra floreceu entre nós quando em Paris arrebatava corações e algibeiras outra hespanhola, chamada Marianna Camarro, a celebrada dançarina; mas a nossa, que parecia, com pouca corrupção, a outra, quanto ao appellido, deixou em Portugal memorias dignas de romance de grande fôlego. Um dos seus amantes foi o marquez de Gouvêa, pai do duque de Aveiro, justiçado como regicida em 1758.

No meio da afflicção que lhe dava o abandono do padre Amaro, a perda do amor do escrevente, piegas e pesado, que lhe não trazia utilidade nem prazer, era uma contrariedade imperceptivel: uma infelicidade viera que lhe arrebatava bruscamente todas as affeições a que lhe enchia a alma e a que apenas lhe acariciava a vaidadesinha: e irritava-a, sim, não sentir o amor do escrevente collado a suas saias, com a docilidade d'um cão mas todas as suas lagrimas eram para o senhor parocho, «que não queria saber d'ella»! lamentava a deserção de João Eduardo, porque perdia assim um meio sempre prompto de fazer enraivecer o padre Amaro...

Tasso, que aceitára a parte do indio Lourenço, como quem crescia para as empresas arduas e se apoucava nas trivialidades de galã de vaudeville, arrebatava o auditorio, e o auditorio arrebatava-o nos braços, desde o palco ao seu camarim. Houve n'aquelles remotos dias correntes galvanicas entre o actor e a sala.

Na aldeia ninguem se entendia no meio dessa procella de sons, que, trepando pelos outeiros ao redor, e precipitando-se para os valles além, iam levar o ruido da festa e a gloria de S. Pantaleão ás povoações vizinhas. Penetrando pelos ouvidos do moleiro, aquellas vibrações desalmadas fizeram-n'o despertar do extasi de sovinaria devota que o arrebatava.

Quando um cavallo passava adeante de outro, ouvia-se um rugido de raiva que exhalava o peito do vencido. Entretanto aquella quantidade de cavallos, deitando espuma pela bôcca, fogo pelas narinas, avançava com uma velocidade vertiginosa até ao sitio onde estava Amparo. Aquillo era um furacão de carne, empenhado pelo amor-proprio; parecia que arrebatava tudo.

Mas, sobretudo, o que mais o encantava, aquillo que mais o arrebatava a grandes êxtases gososos, debuxando-lhe nos labios um sorriso espiritualisado e prenhe de beatitude, eram os alvos dentes que perlavam as carminadas gengivas d'ella, quando Paula fitava-o sorrindo, com duas covinhas sobre as faces, bem junto ao rosto d'elle, como desejando magnetisal-o.

Emudecera para a democracia, para os apostolos dos seus sonhos e para os opprimidos das escravidões que a suffocam, o eleito que lhes ouvia os gemidos e lhes interpretava a anciedade, quem lhes restituia os direitos e lhes fazia vingar as aspirações. Não era um homem que a morte arrebatava; era um templo sagrado que se submergia.

Se um d'esses homens for poeta... e quem ha que o não seja depois do baptismo da sombra d'estes salgueiraes, do perfume d'estes campos, do crystallino d'este ambiente, da doçura d'estas aguas, da verdura d'estes montes, da fresquidão d'estas brizas? aqui a poesia bebe-se pelos olhos, pela bocca, pelos ouvidos, sem o querer, sem o cuidar, sem o sentir; cada pedra, cada tronco leva inspirações ao amago do seio, que desatina a cantar como a zagala ao desabrochar do dia, ou como a avesinha, que saúda a primavera; aqui murmura melodias o ciciar da aragem nas flores da collina; o scintillar da lua quando num tecto de saphira pende accesa como lampada de sanctuario; o ardor do sol, quando se alastra em diamantes por cima do estendal da arêa; o echo a responder sonoro ás palmas d'um folguedo; a vara do barqueiro a resvalar nos seixinhos do rio; o lavadouro da tricana, que geme debaixo dos seus golpes, menos duros porque os acompanha uma cantiga de amores! até os nomes dos sitios têm aqui uma suave harmonia, como preludio de canção, que deixa adivinhar-lhe toda a lindeza!.... Mas não vês, Elysa, como eu vou longe do que ia dizendo? era Coimbra, que me arrebatava nas ondas da sua poesia; foi uma nova prova do seu poder; voltemos porém ao primeiro proposito.