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Dentro de poucos dias conto ir vêr os coelhos do quintal d'ella, e ajudal-a a tirar a agua do poço. O pae d'ella chega ahi ao mesmo tempo que esta carta; leva um livro para siAugusto sorriu, ao ler o post-scriptum. Pobre Angelo! murmurou elle, Deus não permitta que sobreviva á tua ultima creancice essa sympathia por Ermelinda.

Embalado n'estes sonhos deliciosos, que lhe representavam todos os encantos do seu paiz natal, sonhos que melhor do que ninguem póde adivinhar o auctor d'este livro, porque tambem chorou e sonhou como Angelo, não ouviu o pobre menino as sete horas que bateram compassadas no relogio do escriptorio.

Augusto disse Henrique, antes de beber e com certo tom de ironia. Conheço; é uma ave rara d'estas immediações, que tem brios de cavalleiro errante sob umas apparencias de philosopho. Brios de cavalleiro? disse Angelo, com vivacidade. Inda isso não é tudo, sr. Henrique; pode accrescentar, e alma de heroe tambem. Pois dê-se-lhe tambem alma de heroe, e se fôr preciso até consciencia de santo.

João Angelo, que era bom Escultor, obteve o beneplacito, e a protecção do Grão Duque, para se restabelecer a antiga Academia, e a Irmandade de S. Lucas, quasi extinctas, no Convento dos Anjos, e depois em S. Lourenço.

Não tenho nada, respondeu Angelo. O que fazias na varanda? Nada; estava a vêr o sol. Vamos, senta-te aqui, e toma chocolate comnosco. Não me appetece. Mas o que é isso? O que te falta? Não te quero eu como se fôra tua mãe? O menino não respondeu; arrasaram-se-lhe os olhos de lagrimas, e os de D. Joanna tambem.

E uma vez que ficava na terra, pediu-lhe o conselheiro que se encarregasse da primeira educação de Angelo, então de nove annos; pois mais confiava para isso em Augusto, do que no professor official. Augusto acceitou com prazer a incumbencia, que, sobre adequada aos seus gôstos, lhe abria uma carreira, que elle imaginára adoptar. De então nasceu uma intima amizade entre Angelo e Augusto.

Vamos, Angelo, disse elle ao rapazinho com modo carinhoso, dando-lhe uma palmada no hombro; conversemos um bocado ácerca da nossa aldeia; venham de algumas noticias frescas d'aquella boa gente. Então de quem te despediste tu antes de partir? Despedi-me de todos os meus parentes e vizinhos. Muito bem! N'esse caso havias de vêr meu irmão, não é verdade?

Mettendo a galope o pequeno baio que montava, dirigiu-se para casa com aquelle alvoroço do coração, que conhece quem foi estudante e se recorda ainda do que experimentava ao vêr de longe despontar o telhado da casa paterna, onde vinha gosar as delicias de umas almejadas férias. Angelo tinha por este tempo treze para quatorze annos.

D. Victoria tomou á sua parte D. Dorothéa e passou a fazer-lhe amargas queixas a respeito dos criados do Mosteiro, ao que D. Dorothéa acudiu com conselhos de resignação christã. Angelo conversava com Magdalena e Christina, a quem frequentemente fazia rir. Henrique e o conselheiro, proximos do fogão, estavam empenhados n'um dialogo muito animado.

Esta mentira do banqueiro foi o bastante para reconciliar Angelo com D. Joanna, que disse: Mas o que faz essa creatura no escriptorio? Porque o não mandaste subir, logo que chegou, para tomar alguma coisa? Provavelmente está ainda em jejum, molhado, cheio de frio... Nada, não, elle disse-me que não tinha vontade de comer; e quanto a aquecer-se, está no meu gabinete, sentado ao fogão.

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