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Se Alp então visse um inimigo armado Surgir-lhe face a face, não se erguêra Tão abalado de profundo assombro. "Deos de meus pais! que vejo? quem es? como D'hostís fileiras te aproximas tanto?" A mão tremente lhe recusa agora Estampar sobre a fronte essa Cruz mesma Que elle tanto insultou; mas n'este lance Se persignára, se a consciencia sua Lhe não fizesse ver quanto era indigno. Repara, observa a fundo, e reconhece O rosto bello, as engraçadas fórmas:

D'aquelles muros no recinto havia Uma donzella, cuja mão formosa Elle obter pertendia apesar mesmo Do inexoravel pai, que, furibundo, Aos rogos lha negou, quando Alp outr'ora, Chamando-se Lanciotto, o bafejavão Tempos melhores, mais propicios fados; E sem nota e sem crime de perfidia, Aos palacios, ás góndolas levando Alegria vivaz, se assignalava Nos Carnavaes, ou resoar fazendo Sobre aguas do Adria esses descantes meigos Que alvoroçadas de prazer escutão Á meia-noite as Italas donzellas.

Na phalange os Janizaros entrárão: Alp os commanda; e a cimitarra nua No erguido braço nu sustenta e brande. Kans e Bachás fixárão-se em seus postos; E ei-lo á frente da hoste se apresenta Em pessoa o Visir.

Ao d'uma columna Alp eis se assenta: Co'a mão comprime a face, e o corpo inclina Como quem se resente acabrunhado D'aterradores pensamentos tetros; A cabeça descahe-lhe sobre o peito Excandescido, palpitante, oppresso; Girão-lhe pela fronte debruçada Os dedos velocissimos, bem como Pelo eburneo teclado os dedos girão De primoroso artista, que em preludios Por ora se entretem, da escôlha incerto.

Seu antigo jejum quebrou-se á larga Nos guerreiros que alli perdendo a vida, Lhes são manjar em refeição nocturna. Pelos turbantes sobre a aréa esparsos, Alp a flor do seu bando reconhece; Bem nota o verde, o carmesim das telas Com que cingião por costume a fronte; E cada pericraneo off'rece a esguia Madeixa longa, e no demais é raso.

Mas ah! que um sonho animador lhes pinta Os lucros todos do futuro espolio; E em quanto mil e mil passão dormindo Esta que a noite extrema é talvez d'elles, Alp, em vigilia atroz, vaguea anciado, E lhe é alvo d'invejas quanto encontra. Vai na aprazivel fresquidão da noite Achando refrigerio ás ancias d'alma.

Elle vinha, depois de volvidos lustros vinte, Reintegrar a Othomana prepotencia; E, os veteranos seus pospondo agora, Para mandar do exercito a vanguarda Alp escolheo, que a confidencia summa, Arrazando cidades, lhe pagava, E mostrando em façanhas destructoras O seu zeloso affêrro á nova crença.

"Inda esta noite; Mas do espirito seu não choro a ausencia, Antes fólgo de ver que não deixo D'esta minha linhagem nobre e pura Ninguem que haja de ser misero escravo De Mafamede ou teu. Anda, acommette!" Baldado desafio! Alp é morto.

Alp ergue a vista ao Ceo, e reconhece O indicado signal; porém o orgulho Entumeceo-lhe o coração, e o rege Com despotico imperio inabalavel; E esta paixão fallaz que o predomina,

O escolho immovel, descobrindo a base, Olha ao largo, e de balde espera as ondas: Póde ver-se a que o cinge espumea linha, Que em baixo lhe traçou a mão dos évos. Um pequeno areal loureja plaino Entre o salgado leito e o chão relvoso. Pela marina margem vagabundo, Eis Alp assoma dos sitiados muros Desviado não mais que quanto alcança Um tiro de clavina.