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ALCIDO. Fazeis-me vós juiz? Quereis que aguarde? Ora cantae sem preço e sem inveja; E seja logo, porque ja he tarde. DELIO. Learda minha, branca mais que a neve, E muito mais corada que a grãa fina; S'inda Amor a vencer-te não se atreve, Que fara quem d'Amor por ti se fina? Eu morro; e tu meu mal julgas por leve? Não vês tu como ja me desatina?

ALCIDO. Se esta vontade minha não deseja A vossos versos dar justos louvores, Hora nunca na vida alegre veja. Acceitae meu desejo, meus pastores: Mais vos não póde dar quem traz o esprito De todo entregue a damnos, mágoas, dores. Mas porque de vós público grito A leve fama, como vêdes, deixo O vosso canto e o meu juizo escrito No liso tronco deste verde freixo.

Esta, das que me deo, foi a primeira; Que a dar-ma o velho Alcido emfim s'abranda, Ouvindo-me cantar nesta ribeira. Ouvio-m'então, estando desta banda; E dando-ma, dizia-me: Este seja O premio, Ergasto, dessa Musa branda. LAURENO. Delio o nosso cantar pondere, e veja Qual dos dous a voz mais docemente; Que huma tal causa tal juiz deseja.

ALCIDO. Muda-se a idade, Delio; e se se muda Com ella a condição, nada m'espanto; O gôsto m'ajudou, ja não m'ajuda. Se ja cantei amor, se amor não canto, Culpas do tempo são, que vai mudando O meu cantar alegre em triste pranto. O tempo, que tão leve vai voando, Delio, não torna mais; e assi fugindo, Mil claros desenganos nos vai dando.

ALCIDO. Como cantarei eu novas cantigas Em terra tão esteril, cheia d'ira, Que nega flores, e que nega espigas? A Amarilia pintei, pintada trago-a Aqui neste meu seio, e tambem chora: Seus olhos me dão fogo, os meus dão-lhe ágoa. Mas vejo vir Galasio. DELIO. Venha embora. Galasio, queres tu cantar comigo? GALASIO. Eu nunca me roguei: menos agora.

DELIO. Cantaremos d'Amor cruel imigo, Ou brando e amoroso, em razão pôsto, Tyranno e cego, e cego até comsigo? GALASIO. Cada qual cante do que for seu gôsto; Quer mimos, quer rigores d'Amor fero; Ou d'olhos verdes cante, ou d'alvo rosto. ALCIDO. Em quanto vós cantais, recolher quero O gado; que são horas de ordenhar: Á noite na malhada vos espero.

Delio neste lugar doce cantou Com Galasio, que doce respondia: Hum Learda, Marfida outro louvou, Com inveja de qual melhor diria. Alcido, que o seu canto bem notou Por ver quem a victoria levaria, Como livre juiz, deo por sentença, Que não havia entr'elles differença. Phyllis. Pascei, minhas ovelhas: eu, em quanto Aquelle passarinho canta ou chora, Chamarei Corydon com triste pranto.

ALCIDO. Não queres tu que sintão corações Obrigados com dor a sentimento, Vendo a razão vencida d'affeições? DELIO. Emfim, todas as cousas querem tento: Encobre a dor, e guarda-te d'extremos; Que sempre trazem arrependimento. Ao nosso doce canto nos tornemos: Das nossas Nymphas, bellas inimigas, Crueza e formosura celebremos.

Quem isto bem olhasse, certifico Que não fugisse tanto da pobreza. O sol tambem m'aquenta, como ao rico; A fonte ágoa me , fructos a terra: Com pouco mantimento farto fico. Ah! que a vaidade nos faz guerra! Alcido, tens ovelhas, e tens cabras, De que tiras da lãa, tiras do leite; E não te faltão campos em que labras. Inda tu queres mais?

Todavia de funda e de cajado Te vai apercebendo a som de guerra; Que não foi tal pastor do ceo dado, Para não dar ao ceo tão larga terra. DELIO. Agora, Alcido, em quanto o nosso gado Pasce diante nós manso e seguro, Sentemos-nos aqui neste abrigado. Logremos este sol sereno e puro, Que livre se nos , antes que venha A noite fria com seu manto escuro. Com pouco se contenta a natureza.