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Depois de El-Rei D. Affonso Anriques ter tomado Lisboa como se disse, logo naquelle anno seguinte andando a era de N. Senhor em mil e cento e quorenta e oito annos, , foi El-Rei sobre Alanquer, e Obidos, e Torres Vedras, e sobre outros Castellos da Estremadura, que ainda eram de Mouros, durando em os tomar seis annos, e depois que os teve assentados, e assi toda a terra da Estremadura, ajuntou todas suas gentes, e passou-se a Alentejo, onde fez grande destruição em os Mouros, tomando-lhes Alcacere, Evora, Elvas, Moura, e Serpa, e outros lugares até chegar a Beja, o qual tendo-a cercada entrou grande poder de Mouros pela Comarca da Beira a fim de retraher, e fazer cessar o dano que El-Rei em elles fazia em Alentejo, e cercaram Trancozo, e depois de combatido e tomado por força destruiram o logar, e deixaram-no, matando muitos Christãos, e levando muitos delles cativos.

O Infante D. Pedro partiu de Coimbra para Lisboa, e com elle álem dos de sua casa, João Gomez da Silva, e D. Fernando de Menezes, e Alvaro Gonçalves de Tayde, e D. Fadrique de Castro, e Fernão Coutinho, irmão do marechal, e Gonçalo Vaz Coutinho, meirinho mór, e Pero de Lemos, e João de Tayde, senhor de Pena Cova, e a gente do Bispo de Coimbra, que faziam numero de mil e oitocentos homens de cavallo, e dois mil e seiscentos de , da qual cousa a Rainha foi avisada, e sendo certificada que o Infante havia de Torres Vedras ir a Alanquer para comsigo segundo diziam levar logo El-Rei ás côrtes, e receosa de assi ser, pelo desviar de tal proposito enviou a elle Anrique Pereira, que o topou em Alfazeirão, pedindo-lhe «que na maneira em que ia escusasse sua ida onde El-Rei e ella e seus filhos estavam, assi porque pareceria desacatamento, estando elles tão sós, como por a villa não ser capaz de seu aposentamento, e menos bastante para os manter.

E sobre este requerimento El-Rei, e a Rainha, e as Ifantes suas irmãs por lhe darem reposta, pediram dias de liberação, dentro dos quais ellas se recolheram logo com a Ifante Dona Branca sua irmã ao Castello de Monte mór, e o basteceram, e fortalezaram, e deshi se emviaram logo aggravar ao Papa Innocencio III que ficára por executor do testamento del-Rei seu pai, e por esso lhe leixou o dito Rei D. Sancho seu pai cem marcos douro, e assi o fizeram ellas mais saber ao dito Rei de Lião com que a dita Rainha Dona Tareja fora cazada, e era apartada delle pela Egreja, de que houveram logo ajuda, e soccorro, a que por seu mandado veo logo o Ifante Dom Pedro seu irmão dellas filho del-Rei Dom Sancho o que depois passou a Marrocos, e trouxe aos ossos dos Martyres, e assi veio ao dito soccorro, e ajuda o Ifante Dom Fernando filho da dita Rainha Dona Tareja, e del-Rei Dom Affonso de Lião, e assi veo em sua companhia Dom Pedro Fernandes de Castro o Castellão, aquelle que em companhia dos Mouros foi prezo em Portugal, e logo solto, e depois passou, e morreo em Marrocos, e com alle veo muita gente, que foi nos estremos de Portugal, donde enviaram ás ditas Villas, e Fortalezas de Monte mór, e Alanquer aquella que comprio para defenção dos Castellos, e para resistencia del-Rei Dom Affonso de Portugal, o qual por sentir muito o insulto tamanho dos estranhos, e tão grande desobediencia dos seus naturaes, veo logo á dita Villa de Monte mór, e por algumas vezes requereo a suas irmãs, e principalmente a Dona Tareja, cuja era, que houvesse por bem de desistir de seu alevantamento, e quizesse que o Castello se entregasse a algum homem de que ambos se confiassem para o ter em boa guarda, e fieldade, e que de sua fazenda delle lhe faria dar todas dispezas, e mantimentos para esso necessarios, e que este arrecadasse inteiramente para ella todas as rendas, e direitos da Villa, mas que as menagens fossem feitas a elle, o que ella nunca quiz fazer, antes se diz que consentio, que os de dentro em desprezo, e por injuria del-Rei seu irmão calando o nome do Reino, e del-Rei de Portugal a que deveram acatar, e obededer, envocaram, e chamaram o nome de Lião, que repetiam muitas vezes, e que outro tanto mandou fazer a Ifante Dona Sancha no Castello Dalanquer, e por tanto El-Rei temendo perder os ditos Castellos os mandou cercar, e combater, e com a gente do cerco, que sobreveo se seguiram nelles, e em seus termos pela condição da guerra muitas mortes, e danos de uma parte, e da outra, pelo qual os Ifantes, e Senhores, que com a gente do Reino de Lião, que disse entráram em Portugal tomáram Valença do Minho, e Melgaço, Algozo, e Freixo, e outros Lugares chãos que roubaram, e queimaram, em que fizeram muto mal.

E sobre esso para mais tormento del-Rei Dom Affonso de Portugal vieram de Roma por juizes Delegados do Papa a requerimento das Ifantes o Arcebispo de Santiago, e o Bispo de Çamora, que por El-Rei de Portugal ir contra o testamento del-Rei seu padre, e por não desistir do cerco, que tinha posto aos Castellos de Monte mór, e Alanquer, excommungou sua pessoa, e pozeram entredicto geral em todo o Reino, exceituaram sómente as ditas Ifantes, e seus sequazes, e servidores, sobre o qual El-Rei Dom Affonso com rezões, e cousas que achou, e lhe aconselharam de sua justiça se enviou destes procedimentos querelar, e aggravar ao Papa, e pedir emenda del-Rei de Lião, e dos que tinham as Villas, e Castellos de seus reinos forçados, e nelles feitos muitos danos, alegando sobre esso a pouca justiça que suas irmãs tinham nas Villas, e Castellos de seu Reino, com que se levantáram, e dando outras rezões, porque entendia ser relevado da culpa que lhe dava dizendo por sua escuza, que o não obrigava o juramento, e menagens, que fizera de comprir o testamento del-Rei Dom Sancho seu padre, porque o fizera forçado, e por não ser deserdado do Reino, e mais que a esse tempo seu pai não estava em todo seu sizo, e entender verdadeiro, pois tanto contra justiça fizera tamanho enlheamento das cousas do Reino, que não podia fazer.

E porque D. Affonso e seu filho com sua gente entráram no castello de subito, sem percebimento de mantimentos, vendo se apertados da necessidade e perigo, e frouxos de esperança de remedio, leixou o castello ao Infante D. João com algumas seguranças que requereu, e se foi para a Rainha. Mandou a Rainha velar e afortalezar Alanquer, onde tinha El-Rei

A qual cousa sendo logo sabida, como quer que a alguns parecesse determinação de pouco peso e auctoridade, o contrairo pareceu a Pedro Annes Lobato, que por ser muito servidor da Rainha, se foi logo a Alanquer onde estava, e lhe notificou com tristeza aquelle acordo, havendo-o por principio mui contrairo a seu serviço, affirmando que não podia ser sem favor e consentimento dos principaes, e com aquelle acatamento que devia a reprendeu muito da segurança que n'estes feitos sempre tivera, e o pouco cuidado de os remediar nos começos ante d'alguma execução, especialmente estando tão ácerca e tão avisada cada dia dos movimentos que se faziam.

A Rainha se partiu com El-Rei e seus filhos e sua casa para Alanquer, muito revosa dos movimentos e alvoroços de Lisboa, e pouco segura em Sacavem onde estava, por ser aldêa fraca e tão perto da cidade, como quer que d'alguns seus fosse aconselhada que o não fizesse, antes que se fosse dentro á cidade; porque era de crêr que sua presença daria ao povo menos ousadia para contra ella seguirem e acabarem o que tinham começado; e que sua ausencia com mostrança de temor causaria o contrairo.

E que se para sua ida e dos seus quizesse alguma segurança, ainda que não fosse necessaria, lh'a dariam na fórma que apontasse. Partiu o conde de Barcellos para Alanquer, e por seu aviso, no dia que chegou foi ahi com elle seu filho o conde d'Arrayollos, que estando comendo se ajuntaram em sua casa por modo de visitação as pessoas principaes que hi eram.

A Rainha como foi em Alanquer, logo escreveu a Lisboa, e alli geralmente a todas as cidades, villas e povos do reino, notificando-lhe alguns beneficios e boas obras que lhes procurara para os obrigar; e assim as causas dos aggravos e sem razões que ácerca do Regimento recebia, para os mover a piedade, descarregando-os com razõas boas, honestas e de razão, dos temores que d'ella tinham ácerca do meter das gentes estrangeiras n'estes reinos, e segurando-os da vingança que lhes faziam crêr que ella d'alguns cruamenta queria tomar; encommendando-lhes e requerendo finalmente, que para as côrtes que se chegavam, cessassem de requerer novidades acerca do Regimento, e quizessem approvar o que El-Rei D. Duarte seu marido leixara, ou ao menos o que nas côrtes de Torres Novas fôra acordado, com alguns protestos fundados em sua boa e virtuosa tenção, mandando que por seu descargo se d'ello se seguissem alguns males e inconvenientes, que suas cartas se registassem nos livros das camaras, e puzessem nos cartorios das religiões: o que se não fez assim; porque na maior parte do reino era o alvoroço tamanho contra a Rainha, que álem de não quererem vêr suas cartas, ainda tratavam os messegeiros d'ellas asperamente, e não como deviam.

Como a Rainha com El-Rei e seus filhos se foi a Alanquer, e do que se seguiu em Lisboa