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O guerreiro chamou-se desde esse tempo Al-gafir, e o povo denominava-o Al-muulin, o sancto fakih..." Como sacudido por uma corrente electrica, Abdu-r-rahman dera um pulo no almatrah ao ouvir estas ultimas palavras, e ficára sentado, hirto e com as mãos estendidas. Queria bradar, mas o sangue escumou-lhe nos labios, e pôde murmurar quasi inintelligivelmente: "Maldicto!"

Sou eu que, venho revelar-te como se prepara a ruina do teu throno, e a destruição da tua dynastia." "A ruina do meu throno? gritou Abdur-r-rahman pondo-se em e levando a mão ao punho da espada. Quem, a não ser algum louco, imagina que o throno dos Beni-Umeyyas póde, não digo desconjunctar-se, mas apenas vacilar debaixo dos pés de Abdu-r-rahman? Quando, porém, falarás enfim claro, Al-muulin?"

Recalcando no fundo do coração a cruel lembrança de que era um filho que ia sacrificar á paz e á segurança do império, o kalifa despediu Al-muulin, e mandando immediatamente reunir o divan deu largas instrucções ao chefe da guarda dos slavos.

Successor do propheta, iman da divina religião do Koran, escuta-me, porque é obrigação tua ouvir-me." O tom inspirado com que Al-muulin falava, a hora de alta noite, o negro mysterio que encerravam as palavras do fakih tinham subjugado a alma profundamente religiosa de Abdu-r-rahman.

Al-muulin foi o primeiro que rompeu o silencio: o principe Beni-Umeyya, esse parecia ter perdido o sentimento da vida.

O fakih não se moveu, e poz-se a olhar também para elle fito. "Al-muulin, o herdeiro dos Beni-Umeyyas póde chorar arrependido de seus erros diante de Deus; mas quem disser que ha neste mundo desventura capaz de lhe arrancar uma lagryma, diz-lhe elle que mentiu!" Os cantos da bôca de Al-gafir encresparam-se com um quasi imperceptivel sorriso. Houve um largo espaço de silencio.

"Kalifa! começou Al-muulin tu és grande; tu és poderoso. Não sabes o que é a affronta ou a injustiça cruel que esmaga o coração nobre e energico, se este não póde repelli-la, e sem demora, com o mal ou com a affronta, vinga-la á luz do sol! Tu não sabes o que então se passa na alma desse homem, que por todo o desaggravo deixa fugir alguma lagryma furtiva, e até, ás vezes, é obrigado a beijar a mão que o feriu nos seus mais sanctos affectos. Não sabes o que isto é; porque todos os teus inimigos tem cahido diante do alfange do almogaure, ou deixado tombar a cabeça de cima do cêpo do algoz. Ignoras por isso o que é o odio; o que são essas solidões tenebrosas, por onde o resentimento, que não póde vir ao gesto, se dilata e vive á espera do dia da vingança. Dir-to-hei eu. Nessa noite immensa, em que se involve o coração chagado, ha uma luz sanguinolenta que vem do inferno, e que allumia o espirito vagabundo. Ha ahi terriveis sonhos, em que o mais rude e ignorante descobre sempre um meio de desaggravo. Imagina como será facil aos altos entendimentos o encontra-lo!

O kalifa, exhausto, sentia aquelle ciclo da vegetação moribunda chama-lo tambem para a terra, e a melancholia da morte pesava-lhe sobre o espirito. Al-muulin durante a conversação daquella tarde havia-se mostrado, contra o seu costume, severamente grave, e nas suas palavras havia o que quer que era accorde com a tristeza que o rodeava. "Conheço que se aproxima a hora fatal: dizia o kalifa.

A reputação d'illuminado de que gosava Al-muulin, o caracter supersticioso do kalifa, e mais que tudo o haverem-se verificado todas as negras prophecias que n'um longo decurso de annos elle lhe fizera, tudo contribuia para atterrar o principe dos crentes. Com voz trémula replicou: "Deus é grande e justo.

Al-muulin parou no limiar da porta, voltou-se para traz, e com voz lenta e grave disse: "Orae ao propheta pelo repouso do kalifa." Houve quem o visse saír, quem á luz baça do crepusculo o visse tomar para o lado de Cordova com passos vagarosos, apesar das lufadas violentas do oeste, que annunciavam uma noite procellosa. Mas nem em Cordova, nem em Azzahrat, ninguém mais o viu desde aquelle dia.